quinta-feira, 20 de julho de 2017

LIVRO AQUÉM DO ALÉM - A TERRA É AZUL

JÁ HÁ MUITO SÉCULOS OS FAZEDORES DE POESIA EXPÕEM, EM SUAS OBRAS, UM CARÁTER DE MELANCOLIA, UM REGISTRO DE DORES E SOFRIMENTOS, PRINCIPALMENTE EM RELAÇÃO AO AMOR. ANTIGO QUE SOU, TENHO ESSA TENDÊNCIA, TALVEZ POR TER LIDO MAIS A POESIA TRADICIONAL QUE AS DE VANGUARDA. E, TAMBÉM, POR TER UM PENSAMENTO PESSIMISTA EM RELAÇÃO À VIDA, QUE ACHO DIFÍCIL SER VIVIDA, COM OS SEUS POUCOS CONTENTAMENTOS. NÃO CONSIGO ME CONFORMAR, ESPECIALMENTE, COM O COMPORTAMENTO HUMANO TÃO CHEIO DE FALHAS, COM A MALDADE QUE PROPICIAMOS AO MUNDO E A NÓS MESMOS E SEMPRE ME PERGUNTO PORQUE SERÁ QUE SOMOS ASSIM? SE PODEMOS SER OS MELHORES, ENTRE OS SERES, PORQUE SOMOS OS PIORES? QUE SAGA É ESSA QUE O HOMEM TEM QUE CARREGAR QUE SEMPRE, TUDO, PRECISA ESTRAGAR? QUANDO LEMBRO DA FRASE QUE CONSIDERO DAS MAIS IMPORTANTES DO SÉCULO XX: - A TERRA É AZUL, DO ASTRONAUTA RUSSO IURI GAGARIN, FRASE QUE SIMBOLIZA TODA A GRANDEZA DA CAPACIDADE HUMANA, ACHO INCRÍVEL QUE ATÉ ESSA CONQUISTA SEJA RESULTADO DE RIVALIDADES E GUERRAS.
POR ISSO, O QUE ESCREVO REFLETE MUITO ESSA VISÃO QUE TENHO DE NÓS MESMOS. ATÉ PORQUE COM O NOTICIÁRIO IMEDIATO QUE VIVEMOS, NÃO HÁ MUITA CHANCE DE PENSAR DIFERENTE.
E, NO ENTANTO, APESAR DE EXTERIORIZAR UMA TRISTEZA, (TALVEZ MAIS UMA SAUDADE DA FACILIDADE QUE TINHA EM SER ALEGRE), BEM NO ÍNTIMO, TENHO UM OTIMISMO OCULTO, QUIÇÁ UTÓPICO, QUE NÃO PERMITE ESMORECER. ACREDITO QUE TODAS AS PESSOAS TENHAM UMA ESPERANÇA, NÃO SEI EM QUE, QUE NOS LEVA ADIANTE.
MAS, POUCO FAZEMOS PARA MELHORAR OS DEFEITOS. 
ENFIM,  SE FOI A NATUREZA OU UMA DIVINDADE QUE NOS CRIOU,  SEJA QUAL FOR, NOS FEZ MUITO MAL FEITOS.

LIVRO AQUÉM DO ALÉM - CENAS INSÓLITAS - II

SEMPRE GOSTEI DE TEATRO E FICO FELIZ POR ISSO PORQUE ASSISTI, AO LONGO DESTA MINHA EXISTÊNCIA, PEÇAS MEMORÁVEIS, COM OS MAIORES ARTISTAS DA CENA BRASILEIRA DO SÉCULO XX. TOMEI CONHECIMENTO DE TEXTOS DE AUTORES NACIONAIS E ESTRANGEIROS, QUE AUXILIARAM A FORMAÇÃO DA MINHA OPINIÃO SOBRE A VIDA.
O PRIMEIRO ESPETÁCULO TEATRAL PROFISSIONAL QUE VI, LÁ PELOS MEUS 17 ANOS, FOI O MUSICAL MY FAIR LADY, NO ANTIGO TEATRO PARAMOUNT, EM SÃO PAULO, COM A INTERPRETAÇÃO DE BIBI FERREIRA E PAULO AUTRAN, NOS PRINCIPAIS PAPÉIS. ATÉ ENTÃO, AMANTE DO CINEMA E DA LITERATURA, ESSA INICIAÇÃO AO VIVO - COM MONTAGEM CENOGRÁFICA E ATUAÇÕES EXCELENTES, ALIADAS AO INTERESSANTE TEMA DE BERNARD SHAW, ADAPTADO POR ALAN JAY LERNER E MÚSICAS TÃO BONITAS DE FREDERIC LOEWE - MARCOU-ME PARA SEMPRE. ATÉ HOJE LEMBRO COM ENORME CARINHO. TEMPOS DEPOIS, REVI EM LONDRES, NUMA MONTAGEM INFERIOR A DE SÃO PAULO E NÃO TIVE A MESMA SENSAÇÃO.
A SEGUNDA VEZ FOI EM A NOITE DO IGUANA, DE TENESSEE WILLIAMS, COM CACILDA BECKER, VALMOR CHAGAS E OLGA NAVARRO. DAÍ EM DIANTE, ATÉ A ATUALIDADE, O TEATRO FAZ PARTE DO MEU CAMINHO, EM TODOS OS SEUS GÊNEROS, DRAMA, COMÉDIA OU MUSICAIS.
MAS, ESCREVO ESTAS LINHAS, NÃO PARA FALAR DE TEXTOS OU DA ATUAÇÃO DE ATORES E SIM PARA FALAR DE CENAS QUE PRESENCIEI E VENHO PRESENCIANDO NAS PLATEIAS.
ALGUMAS HILÁRIAS, OUTRAS CONSTRANGEDORAS, OUTRAS QUASE INVEROSSÍMEIS, O PÚBLICO VEM OFERECENDO, PARALELAMENTE AOS ACONTECIMENTOS DO PALCO, COMPORTAMENTOS TÃO LIVRES, QUE ME LEVAM A PENSAR NA FALTA DE LIMITES EXISTENTE, ESPECIALMENTE HOJE EM DIA, COM ESSA GERAÇÃO DESPROVIDA DE UM RESPEITO MAIS RÍGIDO PELO AMBIENTE E PELOS OUTROS.
SE BEM QUE O PRIMEIRO CASO QUE VOU COMENTAR, ACONTECEU HÁ MAIS DE TRINTA ANOS.       
REFIRO-ME A UM EPISÓDIO OCORRIDO NA EXIBIÇÃO DA PEÇA O BALCÃO, DE AUTORIA DE JEAN GENET, ENCENADA NO TEATRO RUTH ESCOBAR, EM SÃO PAULO, EM 1969. O TEXTO, COMO TODOS DESSE AUTOR, CRITICA O PODER VIGENTE, AS RELIGIÕES, IRONIZA AS CONVENÇÕES SOCIAIS E EXALTA A REBELDIA. DURANTE A ENCENAÇÃO, DE REPENTE, NA ASSISTÊNCIA, UM SENHOR LEVANTA-SE E COMEÇA A VOCIFERAR CONTRA O TEXTO, DIZENDO SER UM ATENTADO AO PUDOR, A LEI E A ORDEM E QUE A POLÍCIA DEVERIA INTERVIR E FECHAR O TEATRO. NO PRINCÍPIO PENSOU-SE QUE FAZIA PARTE DA REPRESENTAÇÃO, MAS, AO PERCEBER QUE NÃO, O PÚBLICO INICIOU UMA GRANDE VAIA E ESTA PESSOA E SEUS AMIGOS RETIRARAM-SE, INDIGNADOS. ERA A ÉPOCA DA DITADURA MILITAR E TODOS FICARAM INCOMODADOS COM A POSSIBILIDADE DE, REALMENTE, CHEGAR A POLÍCIA. MAS, O ESPETÁCULO REINICIOU E NADA MAIS SUCEDEU. O FATO FOI COMENTADO NOS JORNAIS.
OUTRA PARTICIPAÇÃO DO PÚBLICO “ASSISTI” NA PEÇA RODA VIVA, DE AUTORIA DE CHICO BUARQUE.
NO TEXTO, UM ATOR (ACREDITO TER SIDO O ANTONIO PEDRO) DIZIA, EM DETERMINADO MOMENTO, QUE PARA O GOVERNO, TEATRO SÓ ERA FREQUENTADO POR COMUNISTAS OU POR HOMOSSEXUAIS. E PERGUNTA AO PÚBLICO: - TEM ALGUM COMUNISTA AÍ? É CLARO QUE EM FERRENHA DITADURA DE DIREITA, COM MUITA GENTE SENDO PRESA E TORTURADA, NINGUÉM IA ABRIR A BOCA. E NO SILÊNCIO DA ASSISTÊNCIA O ATOR CONTINUAVA: - MAS, ENTÃO QUER DIZER QUE TODOS VOCÊS SÃO HOMOSSEXUAIS? TODOS RIRIAM E A PEÇA CONTINUAVA. NA NOITE EM QUE EU ESTAVA, AO FAZER ESSA PERGUNTA, UM JOVEM, SABENDO A FALA QUE VIRIA A SEGUIR, DISSE: - EU SOU COMUNISTA. O ATOR NÃO ESPERAVA A RESPOSTA E TEVE QUE IMPROVISAR, DECLARANDO QUE O JOVEM DEVERIA SER PRESO, QUE ISSO ERA UMA VERGONHA, AONDE IRIA PARAR A JUVENTUDE DO BRASIL, ETC. OS OUTROS ATORES NÃO CONSEGUIRAM SEGURAR O RISO, PELA INTERRUPÇÃO INESPERADA. QUANDO A PEÇA CONTINUOU COM AS FALAS NORMAIS, EU VIREI PARA O JOVEM E PERGUNTEI: - VOCÊ SABE QUE ALTEROU O TEXTO? ELE RESPONDEU QUE SIM, E NÃO SE IMPORTAVA PORQUE IA VIAJAR, NAQUELA NOITE, PARA A CIDADE DELE, NO INTERIOR E NÃO TINHA MEDO DE REPRESÁLIAS.
(ESSA PEÇA, COMO TANTAS, TAMBÉM CRITICA O PODER, A SOCIEDADE E A RELIGIÃO. E FOI ATACADA POR FANÁTICOS DE DIREITA, PERTENCENTES AO CCC: COMANDO DE CAÇA AOS COMUNISTAS, NUMA NOITE, QUANDO QUEBRARAM CENÁRIOS E AGREDIRAM BRUTALMENTE OS ARTISTAS, ALGUNS TENDO QUE IR PARA O HOSPITAL. ASSIM FORAM OS ANOS DA DITADURA).
NUMA OUTRA OCASIÃO, TAMBÉM HÁ MUITO TEMPO, NO TBC-TEATRO BRASILEIRO DE COMÉDIA, O ATOR JORGE DÓRIA REPRESENTAVA O AVARENTO, DE MOLIÈRE. NUMA FASE DE INICIAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO INTERATIVA, O ATOR PEDE AO PÚBLICO QUE, NO MOMENTO EM QUE ELE BATESSE NUMA PORTA PARA ENTRAR, TODOS PERGUNTASSEM: - QUEM É? ELE BATEU, MAS, POR TIMIDEZ, NINGUÉM SE AVENTUROU A FALAR. ELE ENTROU E DISSE: - QUE CURIOSO! NOS MEUS TRINTA ANOS DE TEATRO EU JÁ VI ERRO DE DIREÇÃO, DE ENCENAÇÃO, DE SOM, DE ATUAÇÃO. MAS, ERRO DE PLATEIA EU NUNCA TINHA VISTO. É A PRIMEIRA VEZ. TODOS RIMOS E A APRESENTAÇÃO SEGUIU.
JÁ BEM MAIS ATUAL, UNS DOIS ANOS ATRÁS, ASSISTI HAMLET, DE SHAKESPEARE. ESTAVA NUM BOM LUGAR, NO TEATRO TUCA, TAMBÉM EM SÃO PAULO, QUANDO COMECEI A SENTIR UM CHEIRO INSUPORTÁVEL DE GORDURA. O TEATRO ESTAVA ESCURO, MAS, VI, AO MEU LADO, UM JOVEM CASAL COMENDO, CALMAMENTE, EM UMA PEQUENA BANDEJA DE PAPELÃO, KIBES E ESFIHAS. A GORDURA E OS MODOS DO CASAL ME INCOMODARAM DE TAL MANEIRA, QUE PRECISEI MUDAR DE LUGAR E IR PARA TRÁS, AONDE AINDA HAVIA ASSENTO VAGO, FURIOSO POR VER OS ATORES MUITO LONGE.
RENCENTEMENTE, FUI VER A PEÇA O EMPRÉSTIMO, NO TEATRO FOLHA. LÁ PELAS TANTAS, COM OS MUITOS GRITOS NO PALCO, ESCUTEI UM RÁPIDO CHORO DE NENÊ. PENSEI EM ALGUMA PORTA OU CADEIRA RANGENDO. NUM GRITO MAIS ALTO, NOVAMENTE OUVI O PEQUENO CHORO. OLHEI NA DIREÇÃO DO SOM E VI UMA JOVEM MOÇA, COM UM BEBÊ DE MESES, NO COLO, EMBALANDO-O. AO LADO DELA, UM CASAL MAIS IDOSO DAVA-LHE ATENÇÃO, PRINCIPALMENTE A SENHORA, QUE IMAGINEI SER A MÃE DA MOÇA.
COMO A PEÇA ERA FRAQUÍSSIMA E CANSATIVA, NA VERGONHA DE SAIR NO MEIO, PASSEI A DAR ATENÇÃO À CRIANCINHA.
INTRIGADO COM A QUESTÃO, ME INDAGAVA: - PORQUE UMA JOVEM LEVARIA UM BEBÊ, À NOITE, NUMA REPRESENTAÇÃO TEATRAL ADULTA, COM ATUAÇÃO HUMORÍSTICA EXAGERADA E BARULHENTA, QUE FAZIA TODOS RIREM ALTO DEMAIS? CLARO QUE O BEBÊ NÃO ENTENDERIA NADA, MAS, TODO O ALARIDO PODERIA ASSUSTÁ-LO, PRINCIPALMENTE AO ACORDAR NUM LOCAL ESTRANHO E ESCURO. CONTUDO, AO SENTIR O ACONCHEGO DA JOVEM (MÃE?), VOLTAVA A DORMIR. SERIA O FILHO DE ALGUÉM DO ELENCO? ACHEI A ATITUDE TÃO ERRADA QUE NÃO PENSEI EM OUTRA COISA. IMAGINAVA QUE PESADELOS O NENÊ PODERIA VIR A TER COM OS MUITOS GRITOS QUE O ACORDAVAM.
ALÉM DE NÃO ENTENDER, REFLETI COMO NÃO HÁ LIMITES PARA A ATITUDE DAS PESSOAS. ERRADAS OU NÃO, FAZEM O QUE QUISER OU O QUE NECESSITAM, EM QUALQUER LOCAL. PARECE QUE SE PERDEU A NOÇÃO DE PROPRIEDADE ENTRE AMBIENTE E POSTURA. NÃO SEI ATÉ QUE PONTO, ESSA TOTAL LIBERDADE DE COSTUMES É BOA. MAS, ENFIM, SÃO OS “MODERNOS” TEMPOS ATUAIS!
SERÁ QUE NAS IGREJAS, TAMBÉM, ASSIM, ACONTECE?
COMO ATEU (DUVIDOSO E POUCO CONVICTO) QUE SOU, NÃO AS FREQUENTO. POR ISSO, NÃO FAÇO IDEIA.
SE BEM QUE LEMBRO QUE EM 1981, NUMA CIDADEZINHA AO REDOR DE ROMA, NA ITÁLIA, ENTREI NUMA IGREJA PEQUENA E SIMPÁTICA, NUM DOMINGO EM QUE HAVIA MISSA. NOS BANCOS DE TRÁS, NOS QUAIS SE REUNIAM OS HOMENS (AS MULHERES E CRIANÇAS FICAVAM NA FRENTE), A MAIORIA CONVERSAVA E UM RAPAZ LIA, OSTENSIVAMENTE, UM JORNAL. OS TEMPOS “MODERNOS” VÊM DE LONGE.


OBSERVAÇÃO, APENAS COMO CURIOSIDADE: ESTA ÚLTIMA PEÇA MENCIONADA, COM TEMA FRACO E HUMOR FORÇADO, PARA FAZER RIR, FOI TÃO DESAGRADÁVEL, QUE PERDI A VERGONHA E SAÍ ANTES DO FINAL. NÃO AGUENTEI.