quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - CATARINA, A GRANDE - RESENHA

NÃO TENHO REPARADO SE ACONTECE EM TODO ANO, MAS NESTE FINAL DE 2014, O QUE MAIS VEJO NAS LIVRARIAS SÃO BIOGRAFIAS DE TODOS OS TIPOS DE PESSOAS NOTÁVEIS: CIENTÍFICAS, HISTÓRICAS E ARTÍSTICAS.
COINCIDINDO COM MEU ANIVERSÁRIO, GANHEI QUATRO, DOS AMIGOS QUE SABEM QUE SOU CURIOSO. ASSIM, RESOLVI FAZER ALGUMAS RESENHAS, QUE PODERÃO SER ÚTEIS AOS INTERESSADOS.

CATARINA, A GRANDE -
RETRATO DE UMA MULHER
AUTOR: ROBERT K. MASSIE
TRADUÇÃO: ÂNGELA LOBO DE ANDRADE
EDITORA ROCCO -

UMA PRINCESA ALEMÃ, AO “FAZER-SE” IMPERATRIZ DA RÚSSIA, CONSEGUE TORNAR-SE UMA DAS PERSONALIDADES MAIS IMPORTANTES DO SÉCULO XVIII.

A BIOGRAFIA É DE AUTORIA DO ESCRITOR NORTE-AMERICANO ROBERT K.MASSIE, NASCIDO EM 1929. FORMADO EM HISTÓRIA, NA UNIVERSIDADE DE YALE, DEDICOU-SE AO ESTUDO DE PESSOAS IMPORTANTES, DE DIFERENTES ÉPOCAS, PARTICULARMENTE DO IMPÉRIO RUSSO. GANHOU O PRÊMIO PULITZER AO ESCREVER A BIOGRAFIA DO IMPERADOR PEDRO, O GRANDE, QUE ENTRE DIVERSAS TRANSFORMAÇÕES, FOI RESPONSÁVEL PELA CONSTRUÇÃO DA NOVA CAPITAL DE SEU PAÍS, SÃO PETERSBURGO.
ESCREVEU TAMBÉM SOBRE A VIDA DE NICOLAU II, O ÚLTIMO CZAR RUSSO.
A HISTÓRIA DA IMPERATRIZ CATARINA (NASCIDA COM O NOME DE SOFIA) COMEÇA A SER REGISTRADA AOS 14 ANOS, QUANDO POR INTERESSES POLÍTICOS TANTO DA RÚSSIA QUANTO DA PRÚSSIA, CASA-SE COM PEDRO III, HERDEIRO DO TRONO RUSSO. FILHA DE MÃE DOMINADORA E PAI EXTREMAMENTE RELIGIOSO, A JOVEM, DESDE CRIANÇA INTERESSOU-SE POR ESTUDOS E LEITURAS, DESENVOLVENDO FORTES OPINIÕES POLÍTICAS E CULTURAIS. AO CHEGAR À CORTE RUSSA, ESSES DOTES A FIZERAM NÃO FRAQUEJAR ANTE OS INÚMEROS PROBLEMAS QUE NECESSITOU ENFRENTAR. O DOMÍNIO DO PAÍS ESTAVA NAS MÃOS SEVERAS DA IMPERATRIZ ELISABETE, QUE EXIGIA QUE O INFELIZ CASAMENTO COM PEDRO III SE CONSUMASSE, O QUE NÃO ACONTECIA. CATARINA PRECISOU UTILIZAR OUTROS RECURSOS PARA DAR UM HERDEIRO AO PAÍS, UM MENINO, A QUEM DEU O NOME DE PAULO.
COMO ALTEZA IMPERIAL, ERA ALVO DE CONTÍNUA OBSERVAÇÃO E CRÍTICA. CONTUDO, FOI CONSEGUINDO SE IMPOR. CONQUISTANDO AMIZADES, PERCEBEU QUE PRECISAVA, SOBRETUDO, TER POPULARIDADE JUNTO AO POVO DE SEU NOVO PAÍS. ASSIM, COMO CIDADÃ RUSSA, ABANDONOU A RELIGIÃO PROTESTANTE E FOI BATIZADA NA IGREJA ORTODOXA.
COM A MORTE DA IMPERATRIZ ELISABETE, JÁ HÁBIL NAS INTRIGAS POLÍTICAS E COM A AJUDA DE PODEROSOS DA CORTE, CATARINA CONSEGUIU ADMINISTRAR O REINO, AFASTANDO SEU IMPOPULAR E TÍBIO MARIDO, EXILANDO-O NUM MOSTEIRO. ALGUNS ANOS DEPOIS ELE VIRIA A FALECER E ELA PODE ASSEGURAR DEFINITIVAMENTE A COROA.
SEU LONGO REINADO PROPICIOU GRANDE MODERNIZAÇÃO NA ENGENHARIA E REFORMAS NO EXÉRCITO E NA MARINHA. APRIMOROU O ESTUDO DA MEDICINA, DO ENSINO ESCOLAR E ESTIMULOU AS ARTES. ESTABELECEU BENEFÍCIOS AOS CAMPONESES, TRATADOS COMO ESCRAVOS POR SEU PATRÕES E DONOS.
ENFRENTOU GUERRAS EXTERNAS E INTERNAS E CONQUISTOU TERRITÓRIOS PARA ABRIR NOVOS CAMINHOS PARA O MAR.
EFICIENTE ADMINISTRADORA, CONTROLOU TAMBÉM TODAS AS MANOBRAS INTERNAS CONTRA SUA POLÍTICA, PRINCIPALMENTE ALGUMAS DE SEU FILHO PRIMOGÊNITO. ERA BOA DIPLOMATA, ALÉM DE MONARCAS EUROPEUS, CORRESPONDIA-SE COM FAMOSOS INTELECTUAIS COMO VOLTAIRE, DIDEROT E MONTESQUIEU.
TINHA UMA NATUREZA SOCIÁVEL E ALEGRE. GENEROSA, ENRIQUECEU MUITOS FAVORITOS.TEVE INÚMEROS AMANTES, AMIGOS E INIMIGOS.
INCANSÁVEL TRABALHADORA, VENCEU A MAIOR PARTE DAS OPOSIÇÕES ÀS REFORMAS QUE PRETENDIA. NEM SEMPRE FOI FÁCIL E AFASTOU DA CORTE INÚMEROS POLÍTICOS CONTRÁRIOS.
ATÉ SEUS ÚLTIMOS DIAS, NÃO DEIXOU DE CONTROLAR O PAÍS.
CATARINA II FALECEU EM 1796. SÓ APÓS SUA MORTE PASSOU A SER CHAMADA PELO POVO RUSSO DE CATARINA, A GRANDE.

PARA ESCREVER O LIVRO, EDITADO EM 2011, O MÉTODO PRINCIPAL DE PESQUISAS DE ROBERT MASSIE FOI A CONSULTA DE PUBLICAÇÕES SOBRE A RÚSSIA E SEUS CZARES E DA TRADUÇÃO DE DOCUMENTOS DIPLOMÁTICOS, DE RELATÓRIOS E DA VASTA EXISTÊNCIA DE CARTAS, EM DIVERSAS BIBLIOTECAS AMERICANAS.
A OBRA, DE ESTILO NARRATIVO CLARO, COMENTA CRONOLOGICAMENTE
OS FATOS, NUMA CONCATENAÇÃO LÓGICA DE CAPÍTULOS.
COM DIVERSAS ILUSTRAÇÕES, É DESTINADA AO PÚBLICO EM GERAL E GRANDE FONTE DE INFORMAÇÕES À ESTUDIOSOS SOBRE A RÚSSIA, A EUROPA E A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XVIII.
SEU AUTOR MERECE ELOGIOS PELO VALOROSO TRABALHO TANTO EM RELAÇÃO ÀS NUMEROSAS PESQUISAS, QUANTO À EXTENSA REDAÇÃO.

sábado, 27 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - É NATAL

NA MANJEDOURA,
A IMAGEM, OUTRORA, 
DURADOURA
AINDA TERIA 
O SIMBOLISMO DE PAZ, 
CONFRATERNIZAÇÃO,
SE NÃO HOUVESSEM
INVENTADO NOEL,
ESSE ÍDOLO DE OURO E MEL
DO CAPITALISMO,
A REPRIMIR O MISTICISMO.

É NATAL!
ESTA DATA RELIGIOSA,
TÃO PRECIOSA
PARA A CRISTANDADE,
CONTINUA UM BEM
OU A VORACIDADE
DO CONSUMISMO 
TORNOU-A UM MAL?


sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

LIVRO VIDE VERSO - A FOTO DO BONDE

A FOTO ANTIGA
E JÁ SEM COR,
DO BONDE VERMELHO.
O AVENIDA 3
QUE LEVAVA SEIS
LEVAVA CEM.
E, A MIM, TAMBÉM,
FELIZ CRIANÇA,
COM O SORRISO NA CARA,
O VENTO NA CARA.
E AS CARAS LEMBRANÇAS
DO SINO,
DO ESTRIBO PROIBIDO
E OS TRILHOS
NO RUMO DOS SONHOS ...
AH! QUANTO EXIBE E ESCONDE
A FOTO DOS TEMPOS DO BONDE.

sábado, 20 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - PIO XII, JOÃO XXIII, PAULO VI E EU



Quanta pretensão! Mas não é imaginação.
É uma história curiosa e verdadeira.
Quando criança, fui um menino metido e com certas ousadias. Ao contrário da minha adolescência quando, por motivos emocionais diversos, tornei-me fechado, tímido e, acomodado no meu silêncio, fui considerado pouco amigável.
Por volta dos dez anos de idade, em 1954, ingressei, como aluno externo, no Liceu Coração de Jesus, da ordem dos padres salesianos, em São Paulo. Ali, iniciei novas amizades, gostei dos professores e dos padres mais simpáticos. Fui escolhido para ser coroinha e passei a ajudar as missas.
O grande edifício da escola era, também, sede da reitoria salesiana para o sul do Brasil. O Reitor ali morava e, pela sua função, recebia muitos outros padres, bispos e arcebispos, da mesma ordem.
Por isso, como coroinha, participei de diversos eventos como missas solenes, ordenação de padres, sagração de bispos e essa convivência entre fausto, músicas sacras, incensos e, também, a vida saudável e metódica que os padres levavam, me fizeram, nos meus onze anos, desejar ser padre. Conversando com o nosso diretor espiritual fiz um comentário, mas de maneira ainda incerta. Questionado sobre minha família, informei que meus pais eram separados, e ele, lamentando, disse que a ordem salesiana não aceitava aspirantes a padres que tivessem pais desquitados. Fiquei bastante abatido, porque, na minha ingenuidade, queria ter o mesmo tipo de vida.
Hoje, reconheço que minha vocação era ficar naquele bom local, sem imaginar que pudesse ser mandado para qualquer lugar do mundo, como missionário salesiano e que, bem no íntimo, o que eu queria mesmo, era ser bispo ou muito mais. Na época, tinha uma fé verdadeira, mas o que me motivava era aquele tipo de vida calma.

Como já disse, além de metido eu era ousado.
Não me conformando com essa exclusão, escrevi uma carta para o Papa Pio XII, no Vaticano, explicando minha situação e pedindo interferência a meu favor, junto ao Superior Geral da Ordem, em Turim, na Itália.
Na época eu colecionava selos, moedas e autógrafos.
No mesmo pedido, solicitei também um autógrafo manuscrito do Papa Pio XII. Fiquei imaginando o sucesso que seria para a minha incipiente coleção, que continha autógrafos de alguns políticos, artistas, bispos e arcebispos. Meses depois, recebi em casa, um envelope, com papel grosso e telado, tendo as armas e selos do Vaticano. Abri com a sofreguidão natural, mas me decepcionei logo após, por ver que continha benção papal e retrato autografado, mas impressos. Não eram originais. De qualquer maneira, essa carta serviu para saber que a minha tinha sido recebida. Quanto à questão de poder ser padre salesiano, nada fiquei sabendo. Pouco depois, fui chamado pelo padre Reitor, que esclareceu que o Vaticano tinha entrado em contato com a Ordem Superior Salesiana e recebeu a resposta que não poderia ser aberta qualquer exceção que fosse contra as determinações de Dom Bosco, o santo fundador da Ordem, no século 19.
A informação do Vaticano foi enviada ao arcebispado de São Paulo e transmitida ao Colégio por um secretário do cardeal-arcebispo Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta.
Não podendo ser padre salesiano, resolvi ser um padre não ligado às ordens religiosas específicas. Fora delas, um filho de pais separados não era impedido de ser padre, mas também não era muito desejável, ante o rígido moralismo da formação familiar, na Igreja Católica.
Depois de muito pensar, resolvi procurar o Cardeal Motta, no palácio cardinalício, que situava-se na rua Pio XII.
Devo recordar que minha idade era onze, ou talvez, doze anos, minha audácia não tinha discernimento e aparentava uns quatro anos a menos.
O Palácio tinha um grande pórtico, com portões enormes, (que ainda hoje lá estão, apesar de a casa ter sido demolida nos anos 80, para a construção de cinco torres de prédios, espalhadas pelo imenso jardim que a propriedade possuía).
Pequeno como era, para alcançar a campainha tive que escalar o portão. Atendeu um senhor e eu disse, normalmente, que queria falar com o cardeal.
Ele sorriu, falou que o Cardeal só recebia com audiência marcada e perguntou o que eu poderia querer com ele. Nesse momento, um padre entrou pelo portão, indagando curioso o que se passava. Deve ter achado tremenda graça, porque me fez entrar e aguardar numa ante sala, toda envidraçada, onde se avistava parte do jardim.
Só depois de conhecer o Palácio todo, bem mais tarde, é que percebi que aquela ante sala era a de espera para ser recebido no salão de audiência, através de uma porta maior, ao lado. Enquanto esperava, ouvia uma tosse constante que vinha dali.
Quando o padre voltou, expliquei o caso com detalhes. Ele me olhava como a uma raridade e foi comunicar ao Cardeal.
A grande porta foi aberta, eu entrei e quem estava tossindo, ao lado, era o próprio cardeal, que estava, sozinho, lendo sossegado.
Quando Sua Eminência viu um toquinho de gente querendo conversar, deve ter ficado muito curioso e me ouviu. Depois da minha fala, respondeu que lembrava da carta do Vaticano (que já estava arquivada na Cúria Metropolitana), fez inúmeras perguntas sobre minha família, idade, estudos e outras. Quando esgotei as informações, perguntou se eu estava com fome. Tinha tocado uma sineta, eram quatro horas da tarde, horário em que fazia um lanche. Eu o segui por vários corredores, espiando todos os ambientes, até uma enorme sala de refeições, com mesa para 24 pessoas. (Contei o número de cadeiras). Ali já estavam outros padres aguardando. Após ligeira oração, sentamos todos, fomos servidos por freiras, com um lanche bastante frugal. Fiquei numa ponta, sob os olhares intrigados de todos, até das freiras. Terminado o lanche, voltamos para o primeiro salão e perguntado sobre a sinceridade da minha vocação, falei que queria segui-la. Ele disse que não haveria obstáculos e sai de lá como se estivesse nas nuvens. Quando contei em casa, demorou para acreditarem.
Na década de 50, um Cardeal tinha um grande poder, não só religioso, mas também político e o nosso Cardeal era considerado muito austero, sisudo, um pouco distante e de difíceis audiências.
Através dos posteriores encontros, tomei conhecimento da pessoa extremamente culta, não apenas em assuntos religiosos, mas históricos, políticos e artísticos. E também, apesar de toda a autoridade e pompa de direito, o ser humano sincero, simples e generoso que era, como só os grandes fidalgos sabem ser. (Aliás, era bisneto do Visconde de Caetés, neto de desembargador e de influentes políticos mineiros).
Depois desse primeiro dia voltei uma outra vez para pedir um autógrafo para o meu livro, no qual ele escreveu um pensamento muito bonito.
A partir daí tornei-me presença conhecida, voltando inúmeras vezes. Nem sempre o Cardeal podia me receber, é claro, mas quando estava desocupado de algum assunto ou da presença de políticos que o visitavam como governadores, senadores, bispos e arcebispos, ele me acolhia e íamos para o lanche costumeiro. Falávamos sobre diferentes assuntos, principalmente os políticos e religiosos em voga: Comunismo, União Ecumênica das Igrejas Cristãs (na qual ele não abria mão da liderança papal, caso acontecesse) e política brasileira. Talvez, a raridade, tão inusitada, de discutir esses temas com uma criança (que sabia o que falava, graças à leitura diária do jornal O Estado de São Paulo, que meu avô assinava) tenha sido um dos motivos de ser tão bem aceito.
Algumas vezes, fui apresentado a pessoas importantes como o núncio apostólico Dom Armando Lombardi, embaixador do Papa no Brasil, e que, mais tarde, se tornaria um dos mais importantes cardeais administrativos do Vaticano; o Cardeal Cerejeira, patriarca de Lisboa, com a mais bela pronúncia da língua portuguesa que já ouvi; e o Cardeal Montini, famoso arcebispo de Milão que, pela grande obra assistencial, era muito bem-conceituado para ser um futuro Papa. Recordo, perfeitamente, a amabilidade com a qual se dirigiu a mim, perguntando a idade, a escolaridade e até se eu gostava de futebol. Isso aconteceu em 1960, quando veio, como convidado, conhecer Brasília e o Brasil tinha se tornado campeão mundial desse esporte, em 1958.
Embora tenha visto, de longe, e, às vezes de perto, grandes personalidades internacionais, em visita a São Paulo, como o presidente norte-americano Eisenhower, o general De Gaulle, a Rainha Elisabeth e outras; a mais importante com a qual troquei algumas palavras, em toda a minha vida, foi esse gentil Cardeal, que viria a ser o futuro Papa Paulo VI.
Mas estou adiantando muito os acontecimentos.
Depois de ter incomodado o Papa Pio XII com meus problemas e pedido de autógrafo, incomodei mais um, o seguinte.
Em 1958, Pio XII faleceu. O Cardeal Motta devia ir para o Conclave no Vaticano e em dias anteriores, solicitei, com a total falta de bom senso costumeira, se podia me trazer um autógrafo do novo papa eleito.
Na volta do conclave, ele mandou me chamar e entregou um cartão postal com o retrato de João XXIII, o novo Papa, com o tão almejado autógrafo. Não é preciso dizer que fui até o Céu e voltei. Agradeci imensamente e conversamos o que era permitido sobre o Conclave, em razão da minha curiosidade insaciável. Comentou que o Papa na hora de escrever o cartão, começou a assinar o nome como cardeal iniciando a forma de um A, mas depois, por cima colocou o J de João XXIII, dizendo, rindo, que como era uma das primeiras assinaturas, ainda não tinha se habituado.
(Os cardeais assinam o prenome depois cardeal e o sobrenome, ou seja o Cardeal Motta assinava Carlos Carmelo cardeal Motta. Assim também João XXIII que, como cardeal assinava Ângelo cardeal Roncalli).
Quando, no Liceu, mostrei o autógrafo para padres e colegas, muitos duvidaram. Contei para o Cardeal que o autenticou, de próprio punho, junto ao do Papa, num espaço livre, e colocou a chancela oficial, com o seu brasão.
A chancela era redonda e feita por um aparelho mecânico, que pressionava o papel, em alto e baixo relevo, sem qualquer tinta. Quando voltou, nós olhamos a frente do cartão, e ele disse: - Meu Deus, chancelamos bem em cima do rosto do Papa.
Mas não prejudicou em nada e até hoje lembro isso com carinho.
Como ainda não tinha sido crismado, e, cada vez mais íntimo, convidei o Cardeal para ser meu padrinho. Ele aceitou prontamente e, na presença de meu avô, meu pai e tias (minha mãe não pode ir) me crismou, numa capelinha incrivelmente bonita que havia dentro do Palácio, aonde rezava a missa diária.
Sinto lembrar que tudo isso tenha sido demolido, porque o Cardeal Arns, com sua grande modéstia, quando substituiu o Cardeal Motta, achou que não devia morar em tanto luxo e vendeu o Palácio.

Por motivos familiares, mudei para a cidade de Sorocaba e passei a visitar bem menos o Cardeal.
Ele, por sua vez, em 1958, cansado de governar religiosamente uma cidade tão grande como São Paulo (embora tivesse bispos auxiliares), desejava se transferir para Aparecida do Norte. 

Sendo grande empreendedor  (terminou a construção, muitos anos parada, da catedral de São Paulo, criou a PUC -Pontifícia Universidade Católica, organizou o Congresso Eucarístico de São Paulo, o Movimento Juvenil Católico, o novo Seminário Diocesano, o Orfanato Pio XII e muitas igrejas),  iniciou as obras de uma grande basílica em Aparecida do Norte, dedicada a Padroeira do Brasil, substituindo a igreja menor que já não abrigava o número de romeiros. Pediu seu desligamento de São Paulo, ao Papa Paulo VI em 1963, quando a construção do enorme templo estava quase pronta.
Há aqui um erro histórico cometido pelos jornais, no ano seguinte. Todo Cardeal tinha influência política, como comentei. Isso era inevitável, pela grande força da Igreja Católica. O Cardeal Motta era amigo pessoal do Presidente Juscelino Kubitschek. Foi quem rezou a primeira missa em Brasília, antes de inaugurada; foi quem autorizou que a igreja tão moderna da Pampulha, construção do Oscar Niemayer e decoração de Cândido Portinari, fosse consagrada, quando o político Juscelino ainda era prefeito de Belo Horizonte. (O arcebispo local se recusava a consagrar como igreja, uma arquitetura tão arrojada). Foi quem, veladamente, deu apoio a sua eleição como presidente.
Ao término do mandato de Juscelino, em 1960, foi eleito o político Jânio Quadros, que renunciou. Ocupou seu lugar o vice- presidente João Goulart e sucederam-se os fatos históricos tão conhecidos por todos, com o golpe militar de 1964 iniciando a nefasta ditadura.
Por essa ocasião, saiu a transferência do Cardeal Motta para Aparecida do Norte, requerida antes das mudanças políticas.

Como ele era amigo do ex-presidente Juscelino, mal visto pelos militares, os jornais noticiaram que o Cardeal tinha sido transferido para Aparecida, a pedido da ditadura, como que exilado a uma cidade menor, para que não exercesse nenhuma influência política. A despeito de todos as barbáries, torturas, assassinatos e péssima condição econômica do país, que causaram, esse, talvez, seja o único caso (bastante pequeno) no qual os militares não interferiram.


Mudei para Sorocaba, como comentei, e o Cardeal mudou para Aparecida do Norte. Apesar de alguns cartões e troca de gentilezas,
via-o muito pouco, até porque, aos 15 anos, desistindo de ser padre, sentia enorme vergonha de ter incomodado tantas autoridades. Mas era preciso enfrentar a situação. Cheguei a conversar, na última visita, que minha vocação tinha diminuído. Ele perguntou o que eu gostaria de ser e respondi que talvez fosse advogado, como meu avô. Desejou sucesso, dizendo que eu poderia ser um bom católico em qualquer profissão e quem sabe me tornasse um advogado defensor da Igreja.
Não me tornei advogado, nem um bom católico. Por ver tanta maldade no mundo, hoje até duvido da existência de Deus. Formei-me jornalista, especializado em assuntos culturais. Tive relativo sucesso na profissão, mais por conta das oportunidades do que pela minha tenacidade. Escrevi textos, reportagens e livros. E assim continuo. 
Hoje, tantos anos depois, o que mais me espanta, e me dá certa culpa é como uma criança insignificante como eu, tenha perturbado tantas autoridades religiosas da maior proeminência da época. E no fim, para nada.
O que me admira também é, na audiência, no Vaticano, em 1958, com o novo papa João XXIII, ocasião na qual todo Cardeal tem um primeiro encontro para se apresentar e falar de problemas da sua arqui-diocese e de seu país, o Cardeal Motta, nesse momento

solene e importante, tenha lembrado-se de mim e pedido ao Papa, o autógrafo que tanto desejei.
Me comove essa consideração, que acho imerecida (embora guarde o autógrafo como grande preciosidade) por não ter seguido a carreira que pensava querer. Mas, enfim, também não podia fingir o que já não sentia.

Nunca mais nos encontramos. Hoje, guardo, saudoso e muito honrado, todas essas  incomuns lembranças.
A última vez que estive em Campos do Jordão, já há algum tempo, desci até Aparecida do Norte e visitei, agradecido, o seu túmulo, no Seminário Marista, da cidade.

Na imensa basílica, fiquei feliz em ver a homenagem a ele prestada, num bronze com sua efígie e dizeres, por ter sido o criador do Santuário.

 
EDGARD RIBEIRO DE AMORIM - MTB 16.893

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

LIVRO VIDE VERSO - A VIDA VALE...

A VIDA
VALE À PENA SER VIVIDA,
QUANDO É QUERIDA.
QUANDO VICEJA O DESEJO
QUE ENSEJA O AMOR
PELO QUE FOR.

VALE À PENA
SER VIVIDA,
SE A RODA DA FORTUNA
GIRAR, OPORTUNA,
A SEU FAVOR.

MAS...
QUANDO SE EXTINGUE O PRAZER,
O INTERESSE EM LUTAR
E SOBRA SOBREVIVER,
MELHOR NÃO SER.
MELHOR FINDAR.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

LIVRO VIDE VERSO - A SOLIDÃO E A CARÊNCIA

A SOLIDÃO NÃO É RUIM.
RUIM É SEMPRE A CARÊNCIA.
A SOLIDÃO PODE SER POSITIVA,
PRODUTIVA, TRAZER MOMENTOS
DE CALMA E ALEGRIA.

A CARÊNCIA, JÁ NA ESSÊNCIA, É NEGATIVA.
É INFELIZ, MESMO EM COMPANHIA
E SE REFUGIA NA ESPERA, NA FANTASIA.

O "GÊNIO" É UM SOLITÁRIO.
PODE SER DITOSO OU O CONTRÁRIO,
MAS SEU ATO CRIADOR É SEU GRANDE AMOR.

O CARENTE É UM SOLITÁRIO.
MESMO INVENTIVO, SENSÍVEL, ADMIRADO,
NADA O SATISFAZ E TUDO CRITICA.
SE AUTO CRUCIFICA E JUSTIFICA
POR ALGO QUE NÃO TEM.
NEM SABE O QUE É, MAS SENTE QUE NÃO VEM.

sábado, 13 de dezembro de 2014

LIVRO VIDE VERSO - MÁRIO DE ANDRADE

1922.

CORRE O POETA.
- BOA NOITE, SEU MÁRIO.
SUBINDO NO BONDE
NÃO CONSEGUE ACALMAR:
IRÃO APLAUDIR OU VAIAR?
LAMENTA AS BRECADAS NA SÃO JOÃO.
SE SENTE NERVOSO,PREFERE SER POVO,
É TODO TEMOR E EMOÇÃO.
EM FRENTE AO ROSÁRIO
SE ESQUECE QUE É MÁRIO.
- BOA NOITE, SEU MÁRIO.
ENTRA, EXCITADO, NO MUNICIPAL
PELA PORTA DA NOITE
QUE O CONSAGRARÁ.
SE JUSTIFICA ATRASADO,
ESQUECENDO QUE TAMBÉM É PRINCIPAL.
ENCONTRA AMIGOS, GUIOMAR, VILLA LOBOS ...
- BOA NOITE, MÁRIO.
SE ENCHE DE ARROUBOS, DESEJA A VITÓRIA.
GALGA A ESCADA ... E SOBE À GLÓRIA.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - À INTERNET

SEI QUE SOU AMBICIOSO.
MAS ACHO ESSE PSEUDO
DEFEITO BASTANTE PRECIOSO,
QUANDO SURGE UM ESPAÇO
PARA EU FALAR COMO QUISER,
SEM ME PREOCUPAR COM
A CRÍTICA QUE SE FIZER.
EXPOR A MILHARES DE PESSOAS
E EXPERIMENTAR O FEITIÇO
DE SER, UNIVERSALMENTE, LIDO.
NÃO FOSSE O VALIOSO
FENÔMENO QUE É A INTERNET
QUE TANTA ASPIRAÇÃO PROMETE,
CONTINUARIA A COMPOR
NA CONSTANTE INSATISFAÇÃO
DOS ESCRITOS POUCO LIDOS.
NÃO SOU CONTRA O PAPEL DO PAPEL,
PELO CONTRÁRIO, O PRAZER DE TÊ-LO
EM MÃOS É O REAL AGRADECIDO.
MAS É UM REGOZIJO REDUZIDO,
QUANDO NÃO SE É FAMOSO. 
TODO CRIADOR É ORGULHOSO
E SE ACHA TRAÍDO, AO SER EXCLUÍDO.
A INTERNET VEIO NOS LIBERAR
PARA MUITO MAIS, COMUNICAR.
NÃO VEIO EXTINGUIR O LIVRO.
VEIO SER UM INCENTIVO,
COM O OBJETIVO DE ACRESCENTAR.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - EXPOSIÇÃO LEONARDO DA VINCI

ELOGIAR TÃO GRANDE ARTISTA É DISPENSÁVEL. AS PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E AS INVENÇÕES SÃO SOBEJAMENTE CONHECIDAS, DESTE QUE FOI UMA DA MAIORES PERSONALIDADES DA HUMANIDADE. SUAS OBRAS ESTÃO ENTRE AS MELHORES E MAIS FAMOSAS DE TODA A CRIAÇÃO ARTÍSTICA E CIENTÍFICA DA HISTÓRIA.
NA ARTE, A MONALISA, NO MUSEU DO LOUVRE, TALVEZ SEJA O QUADRO MAIS CONHECIDO DO MUNDO. PARTICULARMENTE, PREFIRO BEM MAIS AS OBRAS SACRAS COMO: A VIRGEM COM O MENINO E O CORDEIRO, TAMBÉM NO MUSEU FRANCÊS, A SANTA CEIA, EM MILÃO, QUE JÁ DEU MOTIVO A TANTAS INTERPRETAÇÕES SIMBÓLICAS E DIVERSAS OUTRAS.
MAS O QUE COMENTO NÃO É A SUA ARTE PICTÓRICA E SIM A ÓTIMA EXPOSIÇÃO: LEONARDO DA VINCI: A NATUREZA DA INVENÇÃO, EM EXIBIÇÃO EM SÃO PAULO, A QUAL, AO INVÉS DE QUADROS, EXIBE AS INCRÍVEIS E PRECURSORAS INVENÇÕES DESTE GÊNIO, NA ENGENHARIA DE CONSTRUÇÕES E ARTEFATOS.
A EXPOSIÇÃO, MUITO BEM MONTADA, COM UM PERCURSO OBJETIVO E ESCLARECEDOR E COM RECURSOS DE COMPUTAÇÃO PARA MAIORES INFORMAÇÕES E INTERAÇÃO COM O PÚBLICO, PERTENCE AO MUSEU LEONARDO DA VINCI, DE MILÃO.
CONTENDO CÓPIAS DE PROTÓTIPOS E MAQUETES, CONSTRUÍDAS EM 1952, A PARTIR DOS DESENHOS E SUAS INDICAÇÕES, ELAS SALIENTAM O VISIONÁRIO MARAVILHOSO, QUE HÁ 500 ANOS ATRÁS CONCEBEU INVENÇÕES COMO: MINI-SUBMARINO, ESCAFANDRO, AVIÕES, BALÕES, PARA-QUEDAS, CONSTRUÇÕES HIDRÁULICAS, MÁQUINAS DE BENEFICIAMENTOS EM GERAL E MUITAS OUTRAS, JUNTO À ENGENHOS DE UM ENORME TEOR BÉLICO, TANTO DE ATAQUE, QUANTO DE DEFESA.
AO LADO DA APARÊNCIA DE UM ARTISTA HUMANITÁRIO, QUASE MÍSTICO EM SUAS PINTURAS RELIGIOSAS, EM PAISAGENS OU RETRATOS, SURGE UM INVENTOR QUASE CRUEL NA CRIAÇÃO DE OBJETOS DE GUERRA TÃO DEVASTADORES, PARA A ÉPOCA.
É FATO HISTORICAMENTE BEM CONHECIDO O QUANTO OS DUCADOS ITALIANOS RIVALIZAVAM ENTRE SI E TAMBÉM COM OUTROS PAÍSES, PELA AMBIÇÃO DE POSSES DE TERRAS E PELA HEGEMONIA DO COMÉRCIO DOS INÚMEROS PRODUTOS, VINDOS, ESPECIALMENTE, DO ORIENTE. SABE-SE TAMBÉM, O QUANTO ARTISTAS E CIENTISTAS DEPENDIAM DE SEUS PROTETORES, NUMA SUJEIÇÃO BASTANTE DESEJADA, PARA SOBREVIVEREM. DESSA MANEIRA, ESFORÇAVAM-SE PARA QUE SEUS MECENAS TIVESSEM TODAS AS PRIMAZIAS, JÁ QUE TANTO AS CRIAÇÕES ARTÍSTICAS COMO AS INVENÇÕES MILITARES OU NÃO, ERAM DESTINADAS A SOBREPUJAR A CONCORRÊNCIA.
LEONARDO DA VINCI FOI DISPUTADO POR MUITOS GOVERNOS E, MAIS VELHO, ACABOU RADICANDO-SE NA FRANÇA. COM A PROTEÇÃO REAL, DESENVOLVEU PROJETOS ATÉ SUA MORTE EM 1519. SEU CORPO ESTÁ NUMA CAPELINHA GÓTICA, NO CASTELO DE AMBOISE, LOCAL QUE TIVE A VENTURA DE VISITAR.
ALÉM DE CONSTRUÇÕES DE FORTES QUASE INEXPUGNÁVEIS, PONTES DESMONTÁVEIS PARA O INIMIGO NÃO ULTRAPASSAR, PONTES MÓVEIS, COM PROTEÇÃO DE COBERTURA PARA SE CONSEGUIR CHEGAR, ILESO, ATÉ O ARROMBAMENTO DE PORTÕES, ELEVADORES MOVIDOS POR CORDAS PARA OS SOLDADOS ALCANÇAREM O TOPO DAS MURALHAS E O APRIMORAMENTO DO QUE JÁ SE CONHECIA COMO CATAPULTAS, LANÇA-SETAS, CANHÕES DE LONGO OU PEQUENO ALCANCE, O QUE SALIENTA-SE BASTANTE, NA EXPOSIÇÃO, SÃO:
- OS ABRIGOS MARÍTIMOS, SOB A ÁGUA, COM HABILIDOSOS MEIOS DE ARTILHARIA E DE VENTILAÇÃO, PARA SURPREENDER, EM ATAQUES SUBMERSOS, NAUS INIMIGAS;
- A INVENÇÃO DA METRALHADORA, UM SISTEMA DE FACES, MONTADAS NUM PRISMA SEXTAVADO HORIZONTAL, PRENDENDO EM CADA UMA INÚMEROS CANOS PARALELOS, COMO OS DE UM REVÓLVER, QUE PERMITIAM VÁRIOS TIROS, AO MESMO TEMPO. ESGOTADA UMA FACE, GIRAVA-SE PARA A OUTRA, CARREGADA COM O MESMO NÚMERO DE CANOS E BALAS;
- A MONTAGEM DE UM PEQUENO SUBMARINO E SUA ARTICULAÇÃO MECÂNICA PARA SE MOVIMENTAR SOB A ÁGUA.
MUITO IMPRESSIONA TAMBÉM, A CRIAÇÃO DOS OBJETOS VOADORES.
BASEADO NA FORMAÇÃO ÓSSEA DAS ASAS DE PÁSSAROS DE GRANDE PORTE, DA VINCI PROJETOU DIVERSOS MODELOS PARA AVIAÇÃO, MOVIMENTADOS PELA FORÇA HUMANA, ATRAVÉS DE PEDAIS, CORRENTES, ROLDANAS E CRUZETAS.
O MESTRE UTILIZAVA-SE DA OBSERVAÇÃO DO MOVIMENTO E DA COMPOSIÇÃO FÍSICA DOS ANIMAIS AÉREOS, TERRENOS OU AQUÁTICOS PARA IDEALIZAR SUAS INVENÇÕES. NÃO SEI ATÉ QUE PONTO TODAS FORAM UTILIZADAS.
O INCRÍVEL, PORÉM, É O SEU CONHECIMENTO E A SUA PREVISÃO, QUE TAIS OBJETOS PODERIAM SER CONCRETIZADOS. E TREZENTOS ANOS ANTES DE JÚLIO VERNE, OUTRO GÊNIO ADMIRÁVEL.
UMA COMPARAÇÃO INTERESSANTE, FEITA PELOS EXPOSITORES, FOI COLOCAR LADO A LADO UM AVIÃO COMERCIAL ATUAL E OUTRO (FEITO EM ACRÍLICO) IDEALIZADO PELO ARTISTA. APESAR DA MESMA FORMA, O DESENHO DO PROJETO ANTIGO É MAIS MODERNO QUE OS AVIÕES ATUAIS. PARECENDO UM PEIXE VOADOR, DE FORMAS LISAS, A DINÂMICA DE SUAS LINHAS ANTECEDE OS CONTEMPORÂNEOS PROJETOS DE NAVES ESPACIAIS QUE OBJETIVAM FORMAS CADA VEZ MAIS SIMPLIFICADAS E EFICIENTES.
LEMBROU-ME UM CONTO DO ESCRITOR ISAAC ASIMOV, CRIADOR DAS LEIS DA ROBÓTICA, NO QUAL A HUMANIDADE NECESSITAVA ABANDONAR O PLANETA TERRA E VAGAR PELO ESPAÇO ATÉ ENCONTRAR OUTRO ASTRO PARA MORADIA. A NAVE, QUE LEVARIA SOMENTE ALGUNS EXEMPLARES DE SERES, NA VERDADE ERA UM ROBÔ CONSTRUÍDO NO FORMATO DE UM AVIÃO SEM ASAS OU CAUDA, QUE APÓS O PRÓPRIO IMPULSO INICIAL, SÓ SE LOCOMOVERIA PELA ATRAÇÃO DAS LINHAS DAS TRAJETÓRIAS ESPACIAIS ATÉ ENTRAR EM ALGUMA ÓRBITA E ATERRISAR NUM ASTRO COM CONDIÇÕES DE VIDA, ESCOLHIDO PELOS COMPUTADORES DE BORDO.
IMAGINO QUE OS MODERNOS PRECURSORES DA FICÇÃO CIENTÍFICA ANDARAM BASEANDO-SE EM ALGUMAS IDÉIAS DESTE SÁBIO, QUE, EM TERRA, MAR OU AR, ARQUITETOU ESQUEMAS, HOJE, PLENAMENTE UTILIZÁVEIS.  

PESSOAS COMO LEONARDO DA VINCI OU MICHELANGELO, GALILEU, SHAKESPEARE, MOZART, PASTEUR, MADAME CURIE, FLEMING, EINSTEIN E TANTOS MAIS, AS “ANTENAS DA RAÇA” COMO SÃO DENOMINADOS OS GRANDES CRIADORES QUE BENEFICIAM A HUMANIDADE, COM SUAS DESCOBERTAS, INVENÇÕES E ARTES, É QUE - ACREDITO EU - JUSTIFICAM E GLORIFICAM NOSSA CONDIÇÃO DE SERES SUPERIORES.

                                                                                                                              



sábado, 6 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - PARA MIM - II

ÀS GRANDES TRISTEZAS
É DIFÍCIL O CONSOLO,
POR MAIS QUE SE DESEJE.
O PESAR DOMINA OS SENTIDOS,
E, MESMO QUANDO SUAVIZADO,
O ÍNTIMO CONTINUA FERIDO.

MAS, INSISTIR EM SOFRER,
COMO FORMA DE VIDA,
QUE REVIVA A PERDA QUERIDA;
TRANSFORMAR A ANGÚSTIA
NUM VÍNCULO DE EXPIAÇÃO,
É CEDER AO DELÍRIO.
NÃO HAVERÁ LENITIVO
QUE OFEREÇA ALÍVIO,
NÃO HAVERÁ CONFORTO
QUE CAUSE ATENUAÇÃO.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

LIVRO VIDE VERSO - À MANEIRA DE DRUMMOND OU BANDEIRA

NÃO COMPOR À MANEIRA
DE DRUMMOND, BANDEIRA,
OS ANDRADES OU OUTROS
MODERNOS LUMINARES,
ERA INACEITÁVEL DEFEITO
POR NÃO INOVAR,
NO MUITO QUE ESCREVI.

ENTRETANTO, DECIDI
QUE ME BASTA SENTIR E CRIAR.
NADA É PRECISO SEGUIR.
MEU CAMINHO TEM MUITAS PEDRAS,
NUNCA FUI AMIGO DO REI.

E MELHOR ME IDENTIFIQUEI
NO SENTIMENTO, NO RIMAR,
COM MENOTTI, GUILHERME, CECÍLIA,
JOÃO CABRAL E OUTROS MAIS,
TAMBÉM SUBLIMES NO ESCREVER.
E, SEM OUSAR ME COMPARAR,
POSSO AFIRMAR:
FAÇO POESIA, SOU POETA.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - UMA ODE AO CAOS

AO CAOS, UMA ODE,
QUE DE UM FRAGMENTO IMERSO,
UMA PARTÍCULA EXPANDE
E NASCE UM UNIVERSO
EM ALGO QUE NÃO EXISTIA.
EXPANDIRAM NOVAS
PARA COMPOR DIVERSOS?


HÁ TEÓRICAS SUPOSIÇÕES
DA EXISTÊNCIA DE OUTROS,
NO TEMPO ETERNO
DO ESPAÇO INFINITO
DAS IMENSURÁVEIS DIMENSÕES.



ANTE QUESTÕES COMPLEXAS,
AINDA TÃO INEXPLICÁVEIS,
QUE REFLEXÕES JUSTIFICÁVEIS
PODERÍAMOS CONCEBER,
NUM TEMA, NO QUAL A MENTE,
ALÉM DE NÃO COMPREENDER,
SEQUER CONSEGUE IMAGINAR?

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

LIVRO FIO DE CRISTAL - NELSON FREIRE

Tive a felicidade de assistir, ao vivo, pela primeira vez, o pianista Nelson Freire, que todos conhecem tão bem, inclusive, internacionalmente. Sempre o ouvi em CDs ou na rádio Cultura, em São Paulo, e gostei muito do filme documental produzido pelo cineasta João Moreira Salles. Mas pessoalmente, nunca o tinha assistido. Até este domingo, 30.11, quando ele se apresentou na Sala São Paulo (SP), junto com a OSESP - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, sob regência do maestro Roberto Tibiriçá.
O pianista tocou, de Frédéric Chopin, o Concerto nº 2 - em Fá menor, Opus 21, composição de cerca de 1830, conforme o catálogo. Apesar de gostar muito de música, conheço, somente e infelizmente, as que me “tocam” mais, como as deste compositor.
A execução admirável, me deixou bastante empolgado, ante tanta demonstração de Arte.
Ao final da apresentação, pela interminável veemência dos aplausos, Nelson Freire regressou ao palco mais três vezes, pois a plateia não se conformava com sua retirada. Em cada retorno, executou um pequeno trecho de músicas que devem estar sempre em seu repertório, para ocasiões como essas, peças em torno de uns cinco minutos.
Ao tocar só, sem a exuberância de uma orquestra, músicas suaves, de teor tão delicado, é que deu para que eu sentisse melhor, o que é ouvir um grande artista. Até pensei que, para mim, teria sido preferível que ele tivesse se apresentado sozinho, desde o início. Sem qualquer desmerecimento ao grande Maestro e à ótima orquestra. Talvez fosse a emoção da presença brilhante, um som mais íntimo na grandeza da Sala ou minha preferência por solos de piano mais “doces”, mas o fato é que me comovi demais.

Já estive na presença de outras grandes celebridades, inclusive nas Artes, luminares que engrandecem nossa existência. Mas há tanto tempo atrás, que havia perdido a sensação dessa emoção.
Ao sair, com o contentamento de ter participado, outra vez, de algo maior, refleti, como sempre, na ambiguidade do ser humano.
Como podemos ter tão magníficos desempenhos em tantas atividades científicas e artísticas e, ao mesmo tempo, sermos o pior ser da face da Terra. Esse fato contraditório sempre me confunde e incomoda bastante e está bem expressado em muito do que escrevo.
Entretanto, ao invés de pensar em questões complexas, de difícil entendimento, mais valioso é comprazer-me com o que vi e ouvi, glorificando o lado humano, quando nos transporta ao melhor.